Descrição das imagens:
card 1: Descrição da imagem: Folder azul escuro que contém um quadrado azul claro. Na parte azul escuro, à direita, estão os logos da Revista Psicologia Política, do Laboratório Pesquisar Com / UFF e do Núcleo de Estudos sobre Deficiência / UFSC um acima do outro, respectivamente. Ao lado esquerdo do logo da Revista, está escrito Chamada Aberta submissões de artigos de 15 de março até 30 de setembro de 2022. Abaixo, dentro do quadrado azul claro, está escrito em letras azul escuras Dossiê: Psicologia e Políticas da Deficiência: ativismos, aleijamentos e a luta anticapacitista, e abaixo em letras pretas EDITORAS
Marivete Gesser – Universidade Federal de Santa Catarina.
Marcia Moraes – Universidade Federal Fluminense. Por fim, é apresentado o link para submissões dos artigos da seguinte forma: Submissões: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_serial&pid=1519-549X. Fim da descrição.
card 2: Descrição da imagem: Folder azul claro que contém um quadrado azul escuro. Na parte azul clara, há o título Chamada Aberta submissões de artigos de 15 de março até 30 de setembro de 2022 e à direita há o símbolo da Revista Psicologia Política. Abaixo, no quadrado azul escuro, há duas ilustrações à direita, na parte superior: uma pessoa com deficiência está sentada sobre o quadrado, tem pele clara, cabelos castanhos compridos e presos num coque, possui uma prótese na perna direita, está usando uma camiseta preta, uma bermuda cinza e um tênis verde, abaixo dela, na margem inferior, está ilustrada outra pessoa com deficiência, numa cadeira de rodas, tem a pele escura, veste uma camiseta amarela, um short azul claro e está descalça, tem cabelos curtos da cor preta. Dentro do quadrado azul escuro está escrito em letras azul claro: Psicologia e Políticas da Deficiência: ativismos, aleijamentos e a luta anticapacitista Editoras: Marivete Gesser (UFSC) e Marcia Moraes (UFF) e, abaixo, em letras brancas:Este dossiê se propõe a acolher trabalhos que situem a deficiência como uma categoria política que, assim como gênero, sexualidade, raça, classe, entre outras, é constitutiva da subjetividade e produz efeitos em todo o tecido social. Propomos o diálogo com o campo dos Estudos da Deficiência (Disability Studies) – que vem sendo constituído por saberes subjugados, produzidos por pessoas com deficiência e pessoas aliadas à luta anticapacitista. Partimos do pressuposto de que trazer para a Psicologia Política as discussões dos estudos da deficiência é reafirmar o compromisso com uma concepção democrática em defesa da emancipação humana. Por fim, em letras azul claro: Submissões: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_serial&pid=1519-549X. Fim da descrição.
Título do Dossiê: Psicologia e Políticas da Deficiência: ativismos, aleijamentos e a luta anticapacitista
Editoras
Marivete Gesser – Universidade Federal de Santa Catarina.
Marcia Moraes – Universidade Federal Fluminense.
Prazo para a submissão dos artigos: entre 01 de março de 2022 a 30 de setembro de 2022.
Previsão de Publicação: até 30 de abril de 2023.
Total de artigos: 10 artigos (podendo ampliar para até 14 caso necessário).
Apresentação
A proposta desse dossiê temático visa abarcar os questionamentos abaixo: Qual o lugar da deficiência, como categoria social de análise da diferença, na Psicologia Brasileira? Quais as interfaces entre a Psicologia Brasileira e os Estudos da Deficiência? Quais são os efeitos das políticas da deficiência, presentes nos diferentes modelos de compreensão dela, nas políticas sociais e, fundamentalmente, na vida das pessoas com deficiência? Quais os desafios epistemológicos para tirar a deficiência do campo da patologia e da tragédia, e situá-la no campo dos direitos humanos e da justiça? Como romper com o capacitismo e demais sistemas opressivos que se interseccionam e precarizam a vida das pessoas com deficiência? Como “aleijar” a psicologia, “produzir fissuras” nas suas práticas no campo da deficiência a partir do encontro com os Estudos da Deficiência?
O presente dossiê parte de debates que viemos realizando desde o ano de 2018, os quais foram ampliados nos Grupos de Trabalho propostos no XX Encontro Nacional da Abrapso (Gesser, Moraes & Alves, 2019) e no X Simpósio Brasileiro de Psicologia Política (Gesser, Moraes & Mello, 2021), que tiveram a colaboração, respectivamente, das pesquisadoras Camila Araújo Alves e Anahi Guedes de Mello. Dentre esses debates, um deles se refere à urgência de ampliarmos a discussão da inclusão da deficiência como categoria social de análise no cenário da Psicologia Brasileira. Também visa problematizar acerca de desafios ético-políticos como o de se tirar a deficiência do campo da patologia, e o de se produzir conhecimentos e práticas comprometidos com o rompimento do capacitismo e demais sistemas opressivos presentes no cenário brasileiro, os quais marginalizam as pessoas com deficiência. Busca-se, desse modo, fomentar a construção de subsídios teórico-metodológicos comprometidos com a construção de pesquisas e práticas anticapacitistas no campo da Psicologia.
Temos observado que a deficiência tem sido amplamente abordada na literatura científica de uma forma objetificada, sobretudo nos estudos que a circunscrevem no modelo biomédico da normalidade (Gesser, 2010; Moraes, et. al. 2017). Esse modelo, por ter como parâmetro um ideal de capacidade e normalidade, reduz a deficiência aos impedimentos corporais e circunscreve as pesquisas e as intervenções ao campo dos estudos SOBRE a deficiência, ao invés de produzir conhecimentos e práticas COM as pessoas com deficiência (Moraes, 2010). Ademais, objetificação das pessoas com deficiência, e redução delas à condição de passividade diante das intervenções planejadas por pessoas sem deficiência, tem sido até recentemente dominante em campos de conhecimento como saúde, educação, assistência social e justiça (Gesser, Block & Nuernberg, 2019). Esse processo dificulta o reconhecimento da deficiência como uma categoria de análise da Psicologia, como já proposto por Gesser, Nuernberg e Toneli (2012) e do capacitismo como um sistema opressivo a ser considerado nas pesquisas e práticas em Psicologia, como vem sendo proposto por alguns autores brasileiros (Mello & Mozzi, 2018).
Essa compreensão da deficiência pautada no modelo biomédico também impossibilita sua visibilidade como uma categoria social tal como raça, gênero, sexualidade, geração, classe social, religião e região. Além disso, mantém a deficiência como um problema individual decorrente de um corpo com impedimentos corporais, dificultando a visibilidade das barreiras sociais que transformam a deficiência em uma experiência fortemente marcada pela opressão. Ademais, autoras como Fiona Campbell (2009) e Sunaura Taylor (2017) têm apontado que a compreensão da deficiência circunscrita ao modelo médico despolitiza a luta das pessoas com deficiência por direitos.
Na década de 1970 do século passado iniciou-se um processo de questionamento do modelo médico da deficiência com a emergência do campo dos Estudos da Deficiência (Diniz, 2007). Esse campo de estudos está preocupado com o desenvolvimento interdisciplinar de uma área crescente de conhecimentos e práticas que surgiu a partir das reflexões realizadas no movimento político das pessoas com deficiência, que veio a ser conhecido como o “modelo social da deficiência”. Em linhas gerais, essa perspectiva propõe o rompimento de concepções sobre a deficiência que reduzem a compreensão do fenômeno às lesões e aos impedimentos do corpo e objetiva uma virada conceitual ao incorporar questões sociais e políticas em sua análise (Gesser, Nuernberg & Toneli, 2012).
A entrada das teóricas feministas no campo dos estudos da deficiência tem corroborado para a sua complexificação das discussões no campo da deficiência, uma vez que essas teóricas inseriram neste campo elementos da experiência que antes eram entendidos como ligados ao âmbito privado. Assim, a deficiência passou a ser situada como uma experiência encarnada/corporificada, deu-se visibilidade à compreensão dela como uma categoria de análise transversal e temáticas como a experiência da dor, o cuidado e a (inter)dependência, foram incorporadas nos estudos da deficiência.
O Brasil incorporou em seu ordenamento jurídico a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), sob o status de emenda constitucional, por meio do Decreto no 6.949/2009 (Brasil, 2009) – e, mais recentemente, aprovou a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – LBI (Lei n. 13.146 de 06 de julho de 2015). Ambos os documentos estão em consonância com o campo dos Estudos da Deficiência e deixam de circunscrever a deficiência como uma questão médica para compreendê-la como decorrente da interação dos impedimentos corporais com as barreiras sociais que obstaculizam a participação social em igualdade de condições. Além disso, situam a deficiência como uma experiência interseccional e política. Assim, os profissionais da psicologia e das demais áreas que atuam nas políticas sociais vêm sendo desafiados a repensar suas práticas profissionais junto às pessoas com deficiência.
Esse dossiê terá como objetivos: a) ampliar o campo dos estudos da deficiência na psicologia brasileira, com ênfase nas contribuições das autoras feministas deste campo; b) relacionar o campo dos estudos da deficiência com o Movimento Político das Pessoas com Deficiência; c) situar a deficiência como categoria política constitutiva da subjetividade que, por meio da intersecção com outras categorias tais como gênero, sexualidade, raça, classe social, geração, religião, etc., opera por meio da produção de relações de poder e opressão; d) identificar possibilidades teórico-metodológicas de se produzir conhecimento e práticas profissionais COM as pessoas com deficiência.
Este dossiê está em consonância com a Revista Psicologia Política por se propor a acolher trabalhos que situem a deficiência como uma categoria política, que assim como gênero, raça, classe, entre outras, é constitutiva da subjetividade e produz efeitos em todo o tecido social. Sustentamos esse argumento a partir das inúmeras pesquisas já realizadas sobre o capacitismo e seus efeitos na construção de ambientes e formas de se relacionar pouco acolhedores da diferença (Mello, 2016; Mozzi, 2020; Ivanovich & Gesser, 2020). Ademais, em consonância com a teoria crip, que foi traduzida no Brasil por Mello (2014, 2019) e Gavério (2015) como teoria aleijada, esse dossiê também se propõe produzir aleijamentos na pesquisa e na atuação profissional da Psicologia junto às pessoas com deficiência, como sugerem Gesser e Mello (no prelo).
Além disso, o dossiê se propõe a dialogar com o campo dos Estudos da Deficiência que é fortemente constituído pelos saberes subjugados, construídos por pessoas com deficiência e pessoas aliadas à luta anticapacitista. Assim, trazer para a Psicologia Política as discussões desse campo teórico-metodológico é reafirmar o compromisso com uma concepção democrática em defesa da emancipação humana. É ainda ampliar e aprofundar, na Psicologia Brasileira, a discussão acerca da deficiência como forma de opressão da diferença, transversal às demais formas de opressão que perpassam o contexto social em que vivemos, o que exige de nós, psicólogos e psicólogas comprometidos/as com a democracia e com a diversidade da paisagem humana, práticas socialmente comprometidas com a emancipação das opressões. Visibilizar a deficiência na Psicologia Brasileira, nas interfaces com os Estudos da Deficiência, é propor estratégias tanto de emancipação da opressão pela deficiência, quanto formas de resistência aos discursos capacitistas que se imiscuem no cotidiano.
O dossiê pretende acolher trabalhos originais, no campo da Psicologia e áreas afins, que podem ser em formato de ensaio teórico ou artigo científico. Esses devem estar alinhados com as perspectivas críticas da deficiência, que emergiram após a virada epistemológica propulsionada com a emergência do modelo social da deficiência, que tirou a deficiência do campo da tragédia individual (Oliver, 1992) e a situou como um fenômeno social e político. Nessa direção, são bem-vindos estudos que discutam os seguintes temas:
- Políticas de austeridade, necropolítica e implicações na vida das pessoas com deficiência.
- Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil.
- A deficiência como categoria social da Psicologia.
- Modelos de compreensão da deficiência e seus efeitos nas práticas em psicologia nos diferentes contextos de atuação.
- Políticas sociais para as pessoas com deficiência nos campos da saúde, assistência social, previdência, educação, justiça e suas possíveis interfaces com questões de gênero, velhice, raça, geração, região, religião.
- Gênero, deficiência e outras intersecções.
- Deficiência e Pandemia de COVID-19
- Contribuições das teorias feministas, decoloniais e crip para os estudos da deficiência.
- A crítica ao capacitismo e seus efeitos nas práticas psicológicas.
- PesquisarCOM as pessoas com deficiência: aspectos teórico-metodológicos.
- Estudos Feministas da Deficiência (especialmente as discussões sobre dependência, interdependência, ética do cuidado e deficiência como experiência encarnada).
- Deficiência e tecnologias sociais.
Referências
Diniz, Débora (2007). O que é deficiência? (Coleção Primeiros Passos). São Paulo, SP: Brasiliense.
Campbell, Fiona Kumari. Contours of Ableism – The production of disability and abledness. Palgrave Macmillan, UK, 2009.
Gavério, Marco Antonio (2015). Medo de um planeta aleijado? Notas para possíveis aleijamentos da sexualidade. Áskesis 4(1), 103-11.
Gesser, Marivete, Nuernberg, Adriano Henrique, & Toneli, Maria Juracy Filgueiras (2012). A contribuição do modelo social da deficiência à psicologia social. Psicologia & Sociedade, 24(3), 557-566.
Gesser, Marivete; Block, Pamela; Nuernberg, Adriano Henrique (2019). Participation, agency and disability in Brazil: transforming psychological practices into public policy from a human rights perspective. Disability and the Global South, Valletta, v. 6, n. 2, p. 1772-1791, 2019.
Gesser, Marivete; Moraes, Marcia; Alves, Camila (2019). Psicologia social, políticas públicas e deficiência. XX Encontro Nacional da Abrapso, São Paulo, 13 a 16 de novembro de 2019.
Gesser, Marivete; Moraes, Marcia; Mello, Anahi Guedes (2021). Psicologia, Direitos Humanos e a Politização da Deficiência. XI Simpósio de Psicologia Política, Florianópolis,
18 a 21 de agosto de 2021.
Gesser, Marivete; & Mello, Anahi Guedes (no prelo). Politizar a deficiência, produzir aleijamentos desde o sul global. Revista Psicologia para América Latina.
Ivanovich, Ana Carolina Friggi; & Gesser, Marivete (2020). Deficiência e capacitismo: correção dos corpos e produção de sujeitos (a)políticos. Quaderns de Psicologia. 22(3), e161 https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1618,
Mello, Anahí Guedes de (2014). Gênero, deficiência, cuidado e capacitismo: uma análise antropológica de experiências, narrativas e observações sobre violências contra mulheres com deficiência. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis
Mello, Anahí Guedes (2016). Deficiência, incapacidade e Vulnerabilidade: do capacitismo ou a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n. 10, p. 3265-3276, 2016.
Mello, Anahí Guedes; Mozzi, Gisele de (2018). A favor da deficiência nos estudos interseccionais de matriz feminista. In: Marcus Vinicius de Freitas Rosa … [et al.] (Orgs.) Políticas públicas, relações de gênero, diversidade sexual e raça na perspectiva interseccional. (pp. 17-30). Porto Alegre: Secco Editora.
Mello, Anahi G. (2919). Politizar a deficiência, aleijar o queer: algumas notas sobre a produção da hashtag #ÉCapacitismoQuando no Facebook. In: Prata, Nair; Pessoa, Sônia C. (Org.). Nair Prata e Sônia Caldas Pessoa. Desigualdades, gêneros e comunicação. (pp. 125-142). São Paulo: Intercom.
Moraes, Marcia (2010). PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual. In: Marcia Moraes e Virginia Kastrup (Orgs.). Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pessoas com deficiência visual. (pp. 26-51). Rio de Janeiro: Nau.
Moraes, Marcia, Mascarenhas, Luiza Teles, Fontes, Fernando, & Martins, Bruno Sena. (2017). Introdução. In: M. Moraes, B. S. Martins, F. Fontes, L. T. Mascarenhas (Eds.). Deficiência em questão: Para uma crise da normalidade. (pp. 9-20). Rio de Janeiro, RJ: Nau.
Mozzi, Gisele de. (2020). Universidade(s) e deficiência(s): interfaces, tensões e processos’ 27/11/2020 151 f. Doutorado em Psicologia Social e Institucional Instituição de Ensino: Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul, Porto Alegre, LUME UFRGS.
Oliver, Mile (1992). Changing the social relations of research production? Disability & Society, 7(2), 101-114. https://doi.org/10.1080/02674649266780141
Taylor, Sunaura. Beasts of Burden: Animal and Disability Liberation. New York: The New Press. 2017.